
Escandalizo.
Debando a solidão.
Agrido a alma e, por pouco,
não quebro o espelho.
Por que, por que exiges de mim
tamanha transparência, lisura?
Permite-me ser profana,
ser uma simples terrena.
Não, não exijas de mim o martírio
a beatificação - sou pequena.
Susta minha desventura -
meu falso céu.
Deixa-me tecer uma nova verdade.
Alivia minha inquietação e,
se não puderes abarcar minha
dor, vasto é o caminho: vai-te
embora, para que não me transforme
em espectro de mulher.
Quero prover o alimento do meu prazer.
Respirar aliviada.
Ser porta-estandarte
sem manto - sem véu.
Caracterizar minha passagem:
Ser mulher em construção.
(Neli Germano)
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