quarta-feira, 9 de julho de 2008



Estas páginas foram escritas a caminhar sobre a água,
e só assim se podem ler.
Não procurei nada, não retive nada.
Limitei-me a acusar o choque
— brutal, por vezes —
de um grão de pólen
ou de uma brisa inesperada.

Não conheço outro ritmo que não seja o das estações.
Outra música que não a das gotas de chuva nos limoeiros.
Outra fuga que não a de um pássaro assustado com a sua própria sombra.
No fundo, o que me recuso a acreditar é que estejamos condenados.
Apesar dos prados envenenados, da lenta agonia dos rios e do mar.
Da atmosfera cada vez mais carregada das cidades.

Contanto que a poesia seja
— continue a ser —
um lugar onde ainda se pode respirar.

Jorge S. Braga

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