terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Claude Monet

Felicidade
de não ter nada meu
e escancarar, com as mãos vazias,
as janelas aos dias,
agradecendo aos céus esta riqueza
da minha super-sensibilidade
para a beleza
para a bondade.

Felicidade
ridícula talvez, talvez insana,
de recalcar tudo que me consome,
de distrair minha própria fome
com a fome de matar a fome humana.

Felicidade
(que é meu orgulho certamente vão),
de, em versos, me haver dado inteira à humanidade,
na impossibilidade
de ser pão.

Felicidade
de vir chegando à maturescência,
nesta paz absoluta de consciência
sem amargura e sem saudade

Felicidade
deste sereno adeus ao sonho que se evade,
desta renúncia àquilo que mais quís.

Felicidade
de sem remorso olhar a dor que infelicita
a humanidade aflita...

Felicidade
de ter sabido ser sempre tão infeliz.
(Gilka Machado)

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