sábado, 2 de maio de 2009

Por delicadeza


Bailarina fui
Mas nunca dancei
Em frente das grades
Só três passos dei


Tão breve o começo
Tão cedo negado
Dancei no avesso
Do tempo bailado


Dançarina fui
Mas nunca bailei
Deixei-me ficar
Na prisão do rei


Onde o mar aberto
E o tempo lavado?
Perdi-me tão perto
Do jardim buscado


Bailarina fui
Mas nunca bailei
Minha vida toda
Como cega errei


Minha vida atada
Nunca a desatei
Como Rimbaud disse
Também eu direi:


«Juventude ociosa
Por tudo iludida
Por delicadeza
Perdi a minha vida»


Sophia Mello Bryner Andresen

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