sábado, 15 de dezembro de 2007

Pequena Flor


Como pequena flor que recebeu uma chuva enorme
e se esforça por sustentar o oscilante cristal das gotas
na seda frágil, e preservar o perfume que aí dorme,

e vê passarem as leves borboletas livremente,
e ouve cantarem os pássaros acordados sem angústia,
e o sol claro do dia as claras estátuas beijando sente,

e espera que se desprenda o excessivo, húmido orvalho
pousado, trémulo, e sabe que talvez o vento
a libertasse, porém a desprenderia do galho,

e nesse temor a esperança aguarda o mistério transida
- assim repleto de acasos e todo coberto de lágrimas
há um coração nas lânguidas tardes que envolvem a vida.
(Cecília Meireles)

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