domingo, 25 de maio de 2008

O jardim do solar


As fontes estão secas e as rosas acabaram.
Incenso da morte. O teu dia aproxima-se.
As pêras engordam como pequenos budas.
Uma névoa azul prolonga o lago.

Moves-te atravês da era dos peixes,
dos presumidos séculos do porco...
A cabeça, os dedos dos pés e das mãos
saem nítidos da sombra. A História

alimenta estas caneluras quebradas,
estas coroas de acantos,
e o corvo vem arranjar as suas vestes.
Tu herdas a urze branca, uma asa de abelha.

Dois suicidas, os lobos da família,
horas de escuridão. Algumas estrelas isoladas
já iluminam os céus.
A aranha na sua própria teia

atravessa o lago. Os vermes
abandonam as suas casas habituais.
As pequenas aves convergem, convergem
com as suas dádivas para um difícil nascimento.

Sylvia Plath
traduzida por Maria de Lourdes Guimarães

Liberdade


Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

Sophia de Mello Breyner Andresen

"Olha amor meu, não "tô" só.
Tenho as flores que plantastes.
São ternuras que deixastes
dentro do meu coração..."

L.Gonzaga

Quem das legiões de anjos?


Se gritasse, quem das legiões de anjos escutaria
o grito? E mesmo se, inesperadamente,
um deles me acolhesse no coração: sucumbiria à sua
existência mais forte! Pois o belo não é senão
o princípio do espanto que mal conseguimos suportar,
e ainda assim, o admiramos porque, sereno,
deixa de nos destruir. Todo anjo é espantoso.

(...)

E a noite, a noite quando o vento cheio de espaços do mundo
nos desgasta a face - para quem ela não saberia ser desejo e suave decepção,
ela, cuja proximidade pesa sobre
o coração solitário! Será mais leve para os amantes?
Juntos, eles apenas encobrem um para o outro seu destino.
Ainda não sabias? Lança o vazio aprisionado nos braços
para os espaços que respiramos! Talvez os pássaros sintam,
num vôo de maior intimidade, o ar mais amplo.

Rainer Maria Rilke

" Palavras não voltam..."


Palavras que machucam
Sem motivos,
Ferem sem compaixão...
Um instante de insanidade
Ofuscando luz que cintilava...

Palavras não voltam...
Ecoam na mente.
Sino e seu badalo...
Lágrimas e remorso.

Perdão não se faz aliado
Diante de atitudes que magoam.
O tempo pede passagem...

Estancar a dor.
Cicatrizar a ferida.
Refazer caminho
Em cima do que restou.

(Cida Luz)