sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Tecelã



Horas a fio passo
Em tecidos nem tão maleáveis
A cardar e fiar...
Calejo os dedos que torcem e
Tentam agulhar os sentimentos claros
Calmos em que tento me [des]emaranhar
Mas a roca roda num desatino hipnótico
E entre um grito surdo e um olhar súplice
Muitas vezes sinto o sorriso
Nascer úmido e ir, aos poucos
Se estampando forte
Numa figura escarlate.
Finalmente consigo parir o fio e
Desde o primeiro instante
Com afinco busco alinhavá-lo
E vou entretecendo palavras que
Já foram usadas, como num patchwork antigo
Remonto, nesse meu coser sem fim,
Novos [?] mosaicos de mim...
(Patrícia Gomes)

O prazer der ser



Já não quero ser grande, forte, inatingível.
quero ser, por hora, de um tamanho que
eu ainda me reconheça, que ainda saiba
me encontrar no passado ou um dia no futuro.
Quero ser humana, quero ser carne e osso,
quero sentir, quero tocar... quero poder
ser isso que sou na medida qualquer do tempo,
estar sempre pronta a me recompor das tempestades;
Não devo estar tão errada...

Há tanta água no oceano que se deixa evaporar
pelo único prazer de voltar a ser uma gota de chuva.
(Cáh Morandi)

SIMPLES ASSIM


prefiro as certezas que meu coração aponta sem pretensão

prefiro o que meu corpo sente quando se funde ao teu

prefiro os caminhos retos que busco com o azul do olhar

e mesmo que algumas verdades anoiteçam mancas

e mesmo que teus segredos amanheçam mudos

e mesmo que minhas mãos envelheçam cegas

ainda assim prefiro essa intensidade da entrega

é assim que eu sei amar
(isabella benicio)

Há caminhos que se cruzam
e passam tão pertos, mas tão pertos
que se encontram no aconchego das almas.

Nestes caminhos cruzados
de voltas e reviravoltas
sempre andei seguro demais.

Nos limites da velocidade
nas horas marcadas das emoções
nos momentos certos que iriam vir.

Andeis nos meus limites
nas minhas possibilidades
sem em momento algum arriscar.

Sempre na segurança das retas
na tranquilidade da direção certa
até você aparecer...

Chegou a hora
de eu sair das minhas retas
e arriscar em tuas curvas...
(Edgar Radins)

Delícia...

Feiticeira


De que noite demorada
Ou de que breve manhã
Vieste tu, feiticeira
De nuvens deslumbrada
De que sonho feito mar
Ou de que mar não sonhado
Vieste tu, feiticeira
Aninhar-te ao meu lado
De que fogo renascido
Ou de que lume apagado
Vieste tu, feiticeira
Segredar-me ao ouvido
De que fontes de que águas
De que chão de que horizonte
De que neves de que fráguas
De que sedes de que montes
De que norte de que lida
De que deserto de morte
Vieste tu feiticeira
Inundar-me de vida.
(Luis Represas)


Existem pessoas
que são um sonho.
Um sonho pelo qual
a gente dormiria a vida inteira.
Mas o destino vem
e nos acorda violentamente...
E nos leva aquele sonho tão bom...
Existem pessoas
que são estrelas.
Mas vem o amanhecer
e nos rouba com toda a
sua claridade
aquela estrela tão linda.
Existem, finalmente,
as pessoas que são
maravilhosamente amigas.
Pessoas amigas e doces
como o mel de uma flor
que desabrochou numa estrela
e que veio até nós
num lindo sonho!
E ainda bem que são amigas,
porque flores,estrelas ou sonhos,
mais cedo ou mais tarde,
terminam...
mas a amizade...
a amizade verdadeira não
termina nunca...
(AD)