domingo, 21 de dezembro de 2008

Belo



Sou feito de cacos e retalhos.
Meu corpo de retalhos e costuras;
Minha alma de cacos e soldas.

Mas não penses que por isso me faço feio;
Sou a mais linda colcha de teu enxoval
A aquecer as tuas noites de inverno
Quando o outro lado da cama está vazio;
Sou o mais belo vitral de tua janela
A colorir os raios do sol que iluminam
O templo interior de tuas solidões.

Fiz-me belo em teu leito e em teu altar
Para te aquecer e te colorir, Bela!

(Oswaldo Antônio Begiato)

Colha o dia, confia o mínimo no amanhã
Não pergunte, saber é proibido, o fim que os deuses
darão a mim ou a você, Leuconoe, com os adivinhos da Babilônia
não brinque. É melhor apenas lidar com o que cruza o seu caminho
Se muitos invernos Jupiter te dará ou se este é o último,
que agora bate nas rochas da praia com as ondas do mar
Tirreno: seja sábio, beba seu vinho e para o curto prazo
reescale suas esperanças. Mesmo enquanto falamos, o tempo ciúmento
está fugindo de nós. Colha o dia, confia o mínimo no amanhã.

(Odes" (I, 11.8) do poeta romano Horácio /65 - 8 AC)

Enquanto faço o verso



Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo.

Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.

O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
"Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas".
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:

MORRE O AMOR DE UM POETA.

E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.

Hilda Hilst