quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008


1.
Quando uma montanha se apaixona tudo pode acontecer... Começa aos saltos ou então fica para ali deitada a olhar as nuvens. Convém por isso não a escalar nesses dias e sobretudo não beber da água das suas nascentes.

2.
As montanhas apaixonam-se com frequência. Vestem-se de branco. De verde ou azul. Por vezes abrem as pálpebras. E a lava da sua paixão corre-lhe pelas faldas.

(Jorge de Sousa Braga, "O Poeta Nu" )

Desvio


Fazendo atalhos
Depois de mim
Antes do sol

Prenha de sonhos
Depois do cio
Antes de nós

Sobrou retalho
Roto de cor
Expostos ao sol

eu Só
(Elaine Malmal)

Conflitos



Vivo em duas mulheres
Uma quer calar
A outra quer falar
Uma tem horário
Outra dicionário
Uma tem dois filhos
Outra um par de brincos
Conflitos!
Uma ganha
Outra gasta
Uma ama
Outra afasta
Uma é chama
A outra é casta
Uma vive
Outra escreve
Em desordem natural
(Abigail Brasil)

Apenas uma lembrança assimétrica...



As folhas caiam quais gotas de orvalho
e espalhavam-se no ar.
A árvore mudava a sua copa outonal
e era também outono em seu coração...

E lá estava ela a contemplar a rua,
a olhar o nada como se esperasse alguém
mesmo sabendo que esse alguém não viria

Seus longos cabelos negros dividiam-se em tranças
e seu sorriso lindo de criança esmaecera,
mas, inexplicavelmente
ela não estava triste
estava aliviada por se haver livrado,
ainda que por apenas um dia,
do vil soldado do inferno que lhe atormentava.

E olhos negros a fitar a rua
percebeu ao cair da tarde
o nascer da lua
que nua
lhe dizia: Há vida!
(Ariadna Garibaldi)