quarta-feira, 23 de setembro de 2009


Escrituras de luz investem na sombra, mais prodigiosas
que meteoros.
A alta cidade incognoscível avança sobre o campo.
Certo de minha vida e de minha morte, fito os ambiciosos
e tento entendê-los.
Seu dia é ávido como o laço no ar.
Sua noite é trégua da ira no ferro, prestes a atacar.
Falam de humanidade.
Minha humanidade está em sentir que somos vozes
de uma mesma penúria.
Falam de pátria.
Minha pátria é um lamento de guitarra, alguns retratos
e uma velha espada,
a desvelada prece dos salgueiros nos fins de tarde.
O tempo está vivendo-me.
Mais silencioso que minha sombra, cruzo o tropel de sua
exaltada cobiça.
Eles são imprescindíveis, únicos, merecedores da manhã.
Meu nome é alguém e qualquer um.
Passo devagar, como quem vem de tão longe que não
espera chegar.

Jorge Luis Borges

Jardim


Teu corpo está ali na noite calma
Perto, e eu dou-lhe um beijo
Com o mais forte imaginar do meu desejo
E teu corpo sabe-me a alma.

Mas cala-se tudo. As superfícies dos entes
Ficam apenas... Mera noite a sonhar.

Gela silêncio em luar calmo lago,
E quedam-se as florestas trevas ardentes
E sombra de silêncios a peneirar
O vago
Luar.


Fernando Pessoa

JOÃO E MARIA


João e Maria,
todos os dias.
saíam cedo
pelos caminhos.
Maria em busca
de borboletas,
João à procura
de passarinhos.
Porém um dia
João e Maria
atrás dos bichos
tanto correram,
que não souberam
voltar pra casa;
viram, chorando,
que se perderam.
E os dois, rezando
pediram a Deus
que os conduzisse
para seus pais,
que eles juravam
com borboletas
e passarinhos
não mexer mais.
E Deus, ouvindo-os,
mandou que um anjo
a casa os guiasse
pelos caminhos.
E os dois meninos
não mais mexeram
com as borboletas
e os passarinhos.


Martins D’Alvarez


"Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar.
Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa:
É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem.
Ou seja: Ainda existe gente que canta,
ainda existe gente que brinca."

(Eduardo Galeano)


A primavera é
a estação dos risos...
(Casimiro de Abreu)

Primavera...preço da poda.


Pudera a forração do chão, de energia esparramada,
trazer da alma deserta, do infinito prometido
uma trilha de sol iluminada...
de estrelas pulverizada...
O vento tem me dito,
num misto de desordem,
promessas ao ouvido,
entremeado de pingos,
chuvas esperançosas... de teimosas,
cochicham sonhos podados,
murmúrios desiludidos...
Tudo junto...sombra permeia o fecundo
reluta o luto, a luz...pra não abortar...
E se aborta, estranho ar...
meio desconfiando...
Do azul do céu, nunca da fé...
da magia, da poesia, do perfume,
intuído renovar...
Percepção do ir-real?
Tudo fora do lugar,
caótico sonda mistérios,
o novo por recriar...
Quero ver a brotação, verde explosão...
abarcando silêncios que falem
do eterno, ecos lilazes, róseos, amarelos,
floração em brancas pazes,
se espalhando...
Que seja ressurreição!
Esperança é primavera,
bonança no coração...

Gaiô.

Todas as coisas da criação são filhos do Pai e irmãos do homem.
Deus quer que ajudemos aos animais, se necessitam de ajuda.
Toda criatura em desgraça tem o mesmo direito a ser protegida.

(São Francisco de Assis)

VIAGEM


Que praias selvagens são essas
onde tuas curvas ostentam
despudores?


Que matas virgens são essas
onde tuas vergonhas delatam
indiscrições?


Que desertos abismáticos são esses
onde meus destinos se precipitam
suicidamente?


Que montanhas íngremes são essas
onde minhas mãos serpenteiam
cheias de malícia?

Que lugares fascinantes são esses
delicadamente tatuados em teu corpo
amorenado?


Onde ficam esses lugares inóspitos?
Eu preciso, mulher, conhecê-los
urgentemente!


Oswaldo Antônio Begiato

O amor vicia mesmo
antes de acontecer.
Isso aprendi. Como
também aprendi que
os sonhos se apuram
de tanto se repetirem.

(Mia Couto)

quero ser diferente.
Eu sou.
E se não for, me farei!...

[Caio Fernando Abreu]

Ouvir

com

os

olhos

faz

parte

das

sutilezas

do

amor.

Shakespeare

Era uma vez... Uma menina doidinha
Doidinha a não mais poder...
Corria na chuva... Brincava na grama...
Pulava na cama... De sapatos...
E achava que o céu... Era reflexo do mar
Mas o mais bonito... É que a doidinha...
Amava amar...

[[By Joel Palma]]

SOMBRA


sou o estranho que mais conheço
sem meio e sem fim
sou meu recomeço


- Lílian Maial -

Leves a ponto de terem asas poéticas.
Intensas dentro e fora de seus próprios casulos.
Mulheres Borboleta voam à margem da maldade vista de fora...
e mergulham em vôos rasantes em tudo que leva a alma a sorrir.
Mulheres Borboleta são maiores do que qualquer intempérie...
porque têm asas... e só elas conseguem voar....

- T. Ferrari -

A vida passa tão depressa,
semelhante ao vento!
Não espere para amar depois
Talvez não dê mais tempo!

¬Pe. Fábio de Melo¬