quarta-feira, 22 de julho de 2009

Canção da Aia Para o Filho do Rei ( trecho )


Mandei pregar as estrelas
Para velarem teu sono.
Teus suspiros são barquinhos
Que me levam para longe...
Me perdi no céu azul
E tu, dormindo, sorrias.
Despetalei uma estrela
Para ver se me querias...
Aonde irão os barquinhos?
Com quem será que tu sonhas!


(Mario Quintana)

O Vencedor


Olha lá quem vem do lado oposto
E vem sem gosto de viver
Olha lá que os bravos são escravos
Sãos e salvos de sofrer
Olha lá quem acha que perder
É ser menor na vida
Olha lá quem sempre quer vitória
E perde a glória de chorar
Eu que já não quero mais ser um vencedor,
Levo a vida devagar pra não faltar amor

Olha você e diz que não
Vive a esconder o coração

Não faz isso, amigo
Já se sabe que você
Só procura abrigo
Mas não deixa ninguém ver
Por que será?

E eu que já não sou assim
Muito de ganhar
Junto às mãos ao meu redor
Faço o melhor que sou capaz
Só pra viver em paz.


Los Hermanos/ Marcelo Camelo

Hora do Chá



Mas acontece que não basta colher
As primeiras folhas da ponta dos ramos.
Nem esperar que a chaleira cante
E o chá desdobre os caracteres de sua escrita
Em água, perfume e topázio.

Não basta a receita:
Falta a elevada solidão,
O hino latente,
A dinastia do sonho.
Faltam as convergências
Do céu e da terra,
Os orvalhos e estrelas
Entre o sonhar e o morrer.

(Ah!somente a pedra sonora dirá, decerto,
No ar de ouro e seda,
O caminho saudoso dos ritos,
O ato de perfeição
Por que choram os nossos olhos.)

(Cecília Meireles)

Fez-se a alegria
Corra e olhe o céu
Que o sol vem trazer


Bom dia!


III



Se refazer o tempo, a mim, me fosse dado

faria do meu rosto parábola

rede de mel, ofício de magia



E naquela encantada livraria

onde os raros amigos me sorriam

onde a meus olhos eras torre e trigo



Meu todo corajoso de Poesia te tomava.

Aventurança, amigo,

tão extremada e larga



E amavio contente o amor teria sido.



Hilda Hilst

Bom dia!



Toda a manhã
fui a flor
impaciente
por abrir.

Toda a manhã
fui ardor
do sol
no teu telhado.

Toda a manhã
fui ave
inquieta
no teu jardim.

Toda a manhã
fui ave ou sol ou flor
secretamente
ao pé de ti.


Eugénio de Andrade