Entre Fadas e Borboletas circulamos. Neste movimento transitório, inalterável, percorremos. Entre mistérios e paraísos lilases equilibramos. Entre matizes rosas e azuis voamos. E nos canteiros perfumados cultivamos. As flores mais lindas colhemos. Rosas vermelhas ou brancas exalamos. E nas manhãs de verão, nos amamos. (Paty Padilha)
quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
Argila
Nascemos um para o outro, dessa argila
De que são feitas as criaturas raras;
Tens legendas pagãs nas carnes claras
E eu tenho a alma dos faunos na pupila...
Às belezas heróicas te comparas
E em mim a luz olímpica cintila,
Gritam em nós todas as nobres taras
Daquela Grécia esplêndida e tranquila...
É tanta a glória que nos encaminha
Em nosso amor de seleção, profundo,
Que (ouço ao longe o oráculo de Elêusis)
Se um dia eu fosse teu e fosses minha,
O nosso amor conceberia um mundo
E do teu ventre nasceriam deuses...
(Raul de Leoni Ramos)
Importante é prosseguir (II)
Passou a dor, vão retornando as cores;
Tempo de refazer um sentimento;
Recomeçar, soltar teu riso ao vento;
Fincar no coração novos amores.
E, um dia, o que plantaste serão flores
Que hão de deixar feliz teu pensamento;
Da vida não terás um só lamento;
Co“o sofrimento, irão todas as dores.
De modo igual à fruta que apodrece,
A paixão entristece, quando é finda;
Segue-se a solidão, mais triste ainda.
Mas, plantada a semente, logo cresce,
Renascendo a esperança, que aparece
No verde de uma planta nova e linda.
(Bernardo Trancoso)
Existe um lugar
Onde os sonhos fazem parte
E a realidade também.
Onde o céu é azul.
O imenso mar é cristalino
Cheio de algas, peixes corais...
Existe um lugar,
Uma ilha,
Onde mora o amor...
É aqui que eu te espero.
No azul do céu... no verde do mar...
Ao som dos pássaros... no calor do sol...
Na fresca brisa.
Existe um lugar.
O nosso lugar...
Dentro de nossos dois corações
Que pulsam feito um só.
Eu amo você!
(Thaïs Helena)
Essa lembrança que nos vem às vezes...
folha súbita
que tomba
abrindo na memória a flor silenciosa
de mil e uma pétalas concêntricas...
Essa lembrança...mas de onde? de quem?
Essa lembrança talvez nem seja nossa,
mas de alguém que, pensando em nós, só possa
mandar um eco do seu pensamento
nessa mensagem pelos céus perdida...
Ai! Tão perdida
que nem se possa saber mais de quem!
(Mário Quintana)
O rogo
Senhor, Senhor, faz já tanto tempo, um dia
Sonhei um amor como jamais pudera
Sonhá-lo ninguém, algum, amor que fora
A vida toda, toda a poesia...
E passava o inverno e não vinha,
E passava também a primavera,
E o verão de novo persistia,
E o outono me encontrava em minha espera.
Senhor, Senhor: minhas costas estão desnudas.
Faça estalar ali, com mão rude,
O açoite que sangra aos perversos!
Que está a tarde já sobre minha vida,
E esta paixão ardente e desmedida,
A hei perdido, Senhor fazendo versos.
(Alfonsina Storni Martignoni - Tradução Maria Teresa Almeida Pina
São horas de voltar
São horas de voltar. Tu já não vens, e a espera
gastou a luz de mais um dia. Agora, quem passar
trará um corpo incerto dentro do nevoeiro,
mas terá outro nome e outro perfume. Eu volto
à casa onde contigo se demorou o verão e arrumo
os livros, escondo as cartas, viro os retratos
para a mesa. Sei que o tempo se magoou de nós,
sei que não voltas, e ouço dizer que as aves
partem sempre assim, subitamente. Outras virão.
(Maria do Rosário Pedreira)
Harmonia Velha
O teu beijo resume
Todas as sensações dos meus sentidos
A cor, o gosto, o tato, a música, o perfume
Dos teus lábios acesos e estendidos
Fazem a escala ardente com que acordas o fauno encantador
Que, na lira sensual de cinco cordas,
Tange a canção do amor!
E o tato mais vibrante,
O sabor mais sutil, a cor mais louca,
O perfume mais doido, o som mais provocante
Moram na flor triunfal da tua boca!
Flor que se olha, e ouve, e toca, e prova, e aspira;
Flor de alma, que é também
Um acorde em minha lira,
Que é meu mal e é meu bem...
Se uma emoção estranha
o gosto de uma fruta, a luz de um poente -
chega a mim, não sei de onde, e bruscamente ganha
qualquer sentido meu, é a ti somente
que ouço, ou aspiro, ou provo, ou toco, ou vejo...
E acabo de pensar
Que qualquer emoção vem de teu beijo
Que anda disperso no ar...
(Guilherme de Almeida)
Se você não puder ser um pinheiro no topo da colina,
Seja um arbusto no vale - mas seja
Seja um ramo, se não puder ser uma árvore
Se não puder ser um ramo
seja um pouco de relva
E dê alegria ao caminho
Se não puder ser almíscar, seja
a tília mais viva do lago!
Não podemos ser todos capitães
temos de ser tripulação
Há grandes e pequenas obras a realizar
Se você não puder ser estrada
seja um atalho
Se não puder ser o sol, seja uma estrela
Mas seja o melhor no que quer que você seja!
(Douglas Malloch)
Onde o Poema
Quando cheguei à vida
Vela sobre minha vida, meu grande amor imenso.
Quando cheguei à vida trazia em suspense,
na alma e na carne, a loucura inimiga,
o capricho elegante e o desejo que açoita.
Encantavam-me as viagens pelas almas humanas,
a luz, os estrangeiros, as abelhas leves,
o ócio, as palavras que iniciam o idílio,
os corpos harmoniosos, os versos de Virgílio.
Quando sobre teu peito minha alma foi tranqüilizada,
e a doce criatura, tua e minha, desejada,
eu pus entre tuas mãos toda minha fantasia
e te disse humilhada por estes pensamentos:
Vigiai-me os olhos! Quando mudam os ventos
a alma feminina se transtorna e varia...
(Alfonsina Storni Martignoni - Tradução Héctor Zanetti
Tocamos as palavras
com o pó da ternura
de tempos infinitos
de indizíveis esperas
Estendo as mãos vazias
e pinto-as do brilho nacarado
das palavras caladas
que retemos na sombra púrpura
adiada e estéril.
As que sabemos
de obscuros sentidos
inventados e doces.
(marcam-me a face espanto e emoção)
Explodem as palavras
em silêncios alados
e são pele e sangue
mágoa e fulgor
e são todas vida
e são todas morte.
(marcam-me a face espanto e emoção)
Talvez por isso
se nos selem os lábios
se nos fechem os sentidos
na gaiola do tempo
Talvez por isso
teus dedos abrasados
afaguem no meu rosto
os traços da doçura.
- marcam-me a face espanto e emoção -
(Aida Fazendeiro - Portugal)
Sou uma mulher que anda de salto alto...
E uma menina que brinca no balanço...
Sou uma mulher que luta...
E uma menina que chora...
Sou uma mulher cheia de desejos...
E um menina cheia de sonhos...
Sou uma mulher que briga...
E uma menina que perdoa...
Sou uma mulher que faz regime...
E uma menina que se “entope”
de sorvetes e chocolates...
Sou uma mulher que grita...
E uma menina que ouve...
Sou uma mulher que fica triste...
E uma menina que da risada...
Sou uma mulher que tem grandes irmãos...
E uma menina cheia de “coleguinhas”...
Sou uma mulher que acredita em Deus...
E uma menina que confia no
“Papai do céu"...
Sou uma mulher que "encanta"...
E uma menina que aplaude...
(Selma Del Bosco)
Estou te amando e não percebo,
porque, certo, tenho medo.
Estou te amando, sim, concedo,
mas te amando tanto
que nem a mim mesmo
revelo este segredo.
(Affonso Romano de Sant'Anna)
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Affonso Romano de Sant'Anna
Para viver qualquer fase com alegria, viver com elegãncia e vitalidade, é preciso acreditar que vale a pena. Que existem modos de ser feliz, mais feliz, e podemos persegui-los. Mas essa não é uma caça aos tesouros comprados com dinheiro: é uma perseguição interna, a dos nossos valores, do nosso valor, das nossas crenças e do nosso real desejo.
Na juventude somos aprendizes, somos amadores na vida. Na maturidade devíamos ser bons profissionais do viver: lúcidos e ainda otimistas, mais serenos, de uma beleza diferente, produtivos e competentes.
Acredito que viver é elaborar e criar: são inveitáveis as fatalidades, doença e morte. O resto - que é todo o vasto interior e exterior - eu mesma construo. Sou dona do meu destino. É mais cômodo queixar-me da sorte em lugar de rever minhas escolhas e melhorar meus projetos.
"Mudar é difícil, ousar mais ainda."
(Lya Luft)
Sem Fantasia
Vem, meu menino vadio, vem, sem mentir pra você
Vem, mas vem sem fantasia, que da noite pro dia
Você não vai crescer
Vem, por favor não evites meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos, vou te envolver nos cabelos,
Vem perde-te em meus braços pelo amor de Deus
Vem que eu te quero fraco, vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero todo meu
Ah, eu quero te dizer que o instante de te ver custou tanto penar
Não vou me arrepender, só vim te convencer que eu vim pra não morrer
De tanto te esperar, eu quero te contar das chuvas que apanhei
Das noites que varei no escuro a te buscar
Eu quero te mostrar as marcas que ganhei nas lutas contra o rei
Nas discussões com Deus, e agora que cheguei eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa dos carinhos teus.
(Chico Buarque)
Queria controlar o tempo
Dentro da Máscara...
No infinito
Dois...
Artes
A procura
Andei pelos caminhos da Vida.
Caminhei pelas ruas do Destino -
procurando meu signo.
Bati na porta da Fortuna,
mandou dizer que não estava.
Bati na porta da Fama,
falou que não podia atender.
Procurei a casa da Felicidade,
a vizinha da frente me informou
que ela tinha se mudado
sem deixar novo endereço.
Procurei a morada da Fortaleza.
Ela me fez entrar: deu-me veste nova,
perfumou-me os cabelos,
fez-me beber de seu vinho.
Acertei o meu caminho.
(Cora Coralina)
Caminhei pelas ruas do Destino -
procurando meu signo.
Bati na porta da Fortuna,
mandou dizer que não estava.
Bati na porta da Fama,
falou que não podia atender.
Procurei a casa da Felicidade,
a vizinha da frente me informou
que ela tinha se mudado
sem deixar novo endereço.
Procurei a morada da Fortaleza.
Ela me fez entrar: deu-me veste nova,
perfumou-me os cabelos,
fez-me beber de seu vinho.
Acertei o meu caminho.
(Cora Coralina)
Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
(Carlos Drummond de Andrade)
Voltastes
Voltastes para alegrar o meu coração
que estava vigiando
a tua sombra
por onde passava
Voltaste para alegrar a minha alma
que respirava angustiado
sentindo a sua falta
oxigênio no meu ID
suas pisadas
nas águas da chuva
não deixavam marcas
por onde andavas
Voltaste para alegrar o meu ego
eram fantasmas atrás de mim
perguntando
onde você estava?
não respondia
ficava mudo
que nem os seus olhos
que tem muito para me dizer
o que quer de mim
Voltaste para alegrar o meu corpo
para dar aquele abraço
bem apertado
de uma chegada
sem partida
se partires
partirás mais em pedaços
o meu pobre coração
Voltaste para alegrar os meus olhos
que estavam opacos
sem brilhos
por não poder te ver
não tinha notícias
por onde
andava você
Voltaste para alegrar os santos
todos aqueles que rezei
para te proteger
que nada de ruim
te acontecesse
só assim
voltarei a dormir tranqüilo
agora sei
porquê
lembraste de mim
(Milton Nunes Fillho)
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
Alexandre O'neill
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Alexandre O'Neill
Manhã
A mulher procura a flor que
nasce no meio das flores; mas não é a flor
habitual, com o caule e as pétalas,
nem com o perfume, das outras flores.
A mulher perdeu a imagem
da flor, e não sabe onde se encontra
a flor perfeita, com as cores
puras do amor, e o abrir matinal
em que a vida eclode.
Podia ser ela a flor, e
as folhas que os seus dedos separam
serem macias como a pele
do seu corpo, e os finos estames serem lisos
como os seus cabelos.
Mas o seu trabalho é procurar
a flor perfeita, como se ela não crescesse
no fundo dos seus olhos, quando os abre,
e o dia nasce no seu rosto.
(Nuno Júdice)
Templo
Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face
Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio
Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
Agora
Cantiga
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