sexta-feira, 3 de abril de 2009


"Meus amigos,
quando me dão a mão...
sempre deixam
outra coisa


presença
olhar
lembrança
calor


meus amigos
quando me dão
deixam na minha
a sua mão"

(Leminski)



"Dizem que a gente tem o que precisa.
Não o que a gente quer.
Tudo bem.
Eu não preciso de muito.
Eu não quero muito.
Eu quero mais.
Mais paz.
Mais saúde.
Mais dinheiro.
Mais poesia.
Mais verdade.
Mais harmonia.
Mais noites bem dormidas.
Mais noites em claro.
Mais eu.
Mais você.
Mais sorrisos, beijos e aquela rima grudada na boca.
Eu quero nós.
Mais nós.
Grudados.
Enrolados.
Amarrados.
Jogados no tapete da sala.
Nós que não atam nem desatam.
Eu quero pouco e quero mais.
Quero você.
Quero eu.
Quero domingos de manhã.
Quero cama desarrumada, lençol, café e travesseiro.
Quero seu beijo.
Quero seu cheiro.
Quero aquele olhar que não cansa.
O desejo que escorre pela boca e o minuto no segundo seguinte:
Nada é muito quando é demais."

Fernanda Mello

Carpe diem



Confias no incerto amanhã? Entregas
às sombras do acaso a resposta inadiável?
Aceitas que a diurna inquietação da alma
substitua o riso claro de um corpo
que te exige o prazer? Fogem-te, por entre os dedos,
os instantes; e nos lábios dessa que amaste
morre um fim de frase, deixando a dúvida
definitiva. Um nome inútil persegue a tua memória,
para que o roubes ao sono dos sentidos. Porém,
nenhum rosto lhe dá a forma que desejarias;
e abraças a própria figura do vazio. Então,
por que esperas para sair ao encontro da vida,
do sopro quente da primavera, das margens
visíveis do humano? "Não", dizes, "nada me obrigará
à renúncia de mim próprio --- nem esse olhar
que me oferece o leito profundo da sua imagem!"
Louco, ignora que o destino, por vezes,
se confunde com a brevidade do verso.

Nuno Júdice

Palavras ao Vento



Vento doce
E tranqüilo,
Que me traz
As tuas palavras.
Eu as guardo comigo,
E quando a saudade dói
Elas me levam a ti.

Paty Padilha