Entre Fadas e Borboletas circulamos. Neste movimento transitório, inalterável, percorremos. Entre mistérios e paraísos lilases equilibramos. Entre matizes rosas e azuis voamos. E nos canteiros perfumados cultivamos. As flores mais lindas colhemos. Rosas vermelhas ou brancas exalamos. E nas manhãs de verão, nos amamos. (Paty Padilha)
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem em mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés -
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma...
(Alberto Caeiro)
Proteção
Pense na imagem de uma flor-de-lótus.
Ela é encontrada na lama, na água estagnada.
Porém, como suas pétalas são revestidas de uma espécie
de cera, nada pode tocar sua superfície -
a sujeira simplesmente escorrega.
Eu também posso criar esta camada de proteção de
forma que minha pureza e estabilidade permaneçam
imunes às influências externas. Só assim posso ser
verdadeiro comigo, caso contrário me torno uma
marionete das circunstâncias e situações criadas pelos outros.
(BK Jayanti)
Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa.
Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim:
- ... mastiga a ameixa frouxa. Mastiga, mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca...
(Caio Fernando Abreu)
"fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde nossos olhares se encontram é noite: as pessoas são tão ridículas as pessoas, tão desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestade de medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes: ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer: amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga."
(José Luís Peixoto)
Tempo
Quanto tempo eu perdi?
Quantas vezes me prendi?
Quantas horas já morreram,
já passaram, que eu sofri,
que me mataram?
Sempre na hora.
Na hora H,
ou mesmo fora de hora.
Os novos tempos, ou os de outrora,
Já foram embora.
Talvez agora, lá fora,
junto ao tempo da saudade,
ou do esquecimento, velhos tempos.
Junto ao muro da velhice,
é o tempo.
Talvez quem sabe o momento,
O vento, o pensamento,
O tempo, o tempo.
- Implacável me espera -
(Electra N. Barbabela)
Tudo o que eu queria encontrei em ti
O som doce da tua voz
Ecoa como uma linda canção
E essa bela canção
Toca em meu coração.
O amor que sinto por ti
Não é apenas uma ilusão
Sei que vou ter você aqui
Sempre em meu coração
Em minha vida essa paixão.
Tuas mãos ao tocar meu rosto
É como a brisa suave de verão
Quero viver cada momento
Sem nada mais em meu pensamento
E não sonhar em vão.
Tua pele é como seda
Tua voz é a mais bela canção
Teu sorriso acalenta
Esse meu
Coração.
A mais bela flor
Que encontrei nesse amor
Um sentimento tão profundo
Que não me causa dor
Quero sempre esse amor.
(Hugo Gonçalves Costa)
Se acreditares
Não acreditas quando falo de amor
E de quando largaria tudo para ires onde for
Se tu soubesses que essa vida é única
E que se amanhã em outros braços eu estar
Podes ficar sozinho e sem carinho
E vai doer muito, e não um pouquinho
Não me teres para amar.
Quem sabe busques outras mulheres
Mas eu sei que o queres
É minha imagem encontrar.
Deitaras em outros braços quentes,
E quando olhares nos olhos de outra
É meu olhar que virá em tua mente.
Quando estiver demasiadamente angustiado
Te fará falta não me ter ao teu lado
Para dizer que vai ficar tudo bem.
Mas teu medo é do que vão pensar
E se por acaso vão falar
De estares apaixonado.
Quando tempo ainda te falta ?
Se vem logo a fria madrugada,
Então deita em meu peito terno
Que eu te farei eterno
Inspiração de todos os meus versos
Que a vida me permitir criar.
(Cáh Morandi)
Na amizade, muitas vezes,
a distância é o lugar mais próximo e de maior proximidade,
isto é, onde a presença do outro de tão inteira
já não pode ser medida.
Sendo um lugar cheio de saudade,
esse é também um lugar feliz,
porque aí sem cessar se regressa e avista.
É como o movimento de quem caminha num espaço alto e estreito:
é preciso separar os braços e desunir as mãos, para que possa alcançar o equilíbrio.
(Daniel Faria)
Dá-me a tua mão: Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.
(Clarice Lispector)
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