quarta-feira, 9 de julho de 2008

Amigos


Os amigos chegam de um momento para o outro
deixam a bolsa de milho no umbral
Sentam-se e dizem olá
dizem amigo amiga mascando as bolachas da casa
bebem o vinho do amanhecer
escrevem uma história nas paredes
travam as janelas sacudidas pelo vento com um poema dobrado em quatro
vento louco do sul
e vão-se
Até sempre

Juan Antonio Vasco


Estas páginas foram escritas a caminhar sobre a água,
e só assim se podem ler.
Não procurei nada, não retive nada.
Limitei-me a acusar o choque
— brutal, por vezes —
de um grão de pólen
ou de uma brisa inesperada.

Não conheço outro ritmo que não seja o das estações.
Outra música que não a das gotas de chuva nos limoeiros.
Outra fuga que não a de um pássaro assustado com a sua própria sombra.
No fundo, o que me recuso a acreditar é que estejamos condenados.
Apesar dos prados envenenados, da lenta agonia dos rios e do mar.
Da atmosfera cada vez mais carregada das cidades.

Contanto que a poesia seja
— continue a ser —
um lugar onde ainda se pode respirar.

Jorge S. Braga

glitter-graphics.com



“Eu amo a vida, eis a minha verdadeira fraqueza. Amo-a tanto, que não tenho nenhuma imaginação para o que não for vida.”


Albert Camus