Entre Fadas e Borboletas circulamos. Neste movimento transitório, inalterável, percorremos. Entre mistérios e paraísos lilases equilibramos. Entre matizes rosas e azuis voamos. E nos canteiros perfumados cultivamos. As flores mais lindas colhemos. Rosas vermelhas ou brancas exalamos. E nas manhãs de verão, nos amamos. (Paty Padilha)
sábado, 31 de maio de 2008
Bolha de sabão é que nem silêncio: a gente pode dizer que não existe.
É uma das coisas mais bonitas do mundo: colorida de todas as cores do arco-íris,
toda redonda, voando livre, leve e alto.
João disse (sem falar) pro menino: a vida da gente pode ser uma bolha de sabão (...).
Se a gente aprende a ser colorido, a voar livre, leve e alto até explodir bonito,
sem muito barulho, deixando no ar uma gotinha de saudade."
Do livro João Teimoso, de Luiz Raul Machado,
mas tinha que respirar ...
Debaixo dágua tudo era mais bonito
mais azul mais colorido
só faltava respirar
Mas tinha que respirar
Debaixo dágua se formando como um feto
sereno confortável amado completo
sem chão sem teto sem contato com o ar
Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Debaixo dágua por encanto sem sorriso e sem pranto
sem lamento e sem saber o quanto
esse momento poderia durar
Mas tinha que respirar
Debaixo dágua ficaria para sempre ficaria contente
longe de toda gente para sempre
no fundo do mar
Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Debaixo dágua protegido salvo fora de perigo
aliviado sem perdão e sem pecado
sem fome sem frio sem medo sem vontade de voltar
Mas tinha que respirar
Debaixo dágua tudo era mais bonito
mais azul mais colorido
só faltava respirar
Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
(Arnaldo Antunes)
Vôo
Tão ao de leve...
Deixo-me esvoaçar… Não tenho asas
Ao de leve vou. Tão ao de leve
Mergulho o meu olhar noutro tão breve
Breve é a nuvem que tão leve passa.
Onde vais gaivota em voo tão leve?
O céu na noite azul, tem luz vinda da terra
A noite em brancas asas assim me encerra
Quem esvoaça? O grito? A luz? As asas?
Dou o grito à noite. Da brisa me alimento
A lágrima essa secou, levou-a o vento
Por mim a gaivota desdobrou as asas.
No céu da noite azul eu vou voando.
Uma leve brisa vai por mim passando
Por mim a gaivota desdobrou as asas.
Aida Nuno
Tempos-juncos
SAUDAÇÃO
Oh geração dos afetados consumados
e consumadamente deslocados,
Tenho visto pescadores em piqueniques ao sol,
Tenho-os visto, com suas famílias mal-amanhadas,
Tenho visto seus sorrisos transbordantes de dentes
e escutado seus risos desengraçados.
E eu sou mais feliz que vós,
E eles eram mais felizes do que eu;
E os peixes nadam no lago
e não possuem nem o que vestir.
Ezra Pound ~ tradução de Mário Faustino
Amavisse
Como se te perdesse, assim te quero.
Como se não te visse (favas douradas
Sob um amarelo) assim te apreendo brusco
Inamovível, e te respiro inteiro
Um arco-íris de ar em águas profundas.
Como se tudo o mais me permitisses,
A mim me fotografo nuns portões de ferro
Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima
No dissoluto de toda despedida.
Como se te perdesse nos trens, nas estações
Ou contornando um círculo de águas
Removente ave, assim te somo a mim:
De redes e de anseios inundada.
Hilda Hilst
sexta-feira, 30 de maio de 2008
No ponto onde o silêncio
No ponto onde o silêncio e a solidão
Se cruzam com a noite e com o frio,
Esperei como quem espera em vão,
Tão nítido e preciso era o vazio.
Sophia de Mello Breyner Andresen
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Sophia de Mello Breyner Andresen
Uma abelha, dessas que dizem ser italianas,
entrou pela janela,
obstinou-se em escolher-me,
pousa-me no ombro,
descansa de seus trabalhos.
Lisonjeado com aquela preferência,
comecei a amá-la devagar,
retendo a respiração,
com receio de que não tardasse
a dar pelo seu engano,
que cedo viesse a descobrir
que não era eu a haste de onde se avistavam as dunas.
Mas o seu olhar tranquilizava,
era calma ondulação do trigo.
Agora só uma interrogação perturba a minha alegria:
o que farei com o seu mel?
Eugénio de Andrade
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Eugênio de Andrade
Borboletas
São como borboletas que nossas vidas vivem enfeitar.
Dias após dias chegam colorindo
Beijando flores junto aos pássaros que
com seus cantos nos encantam,
formam lindo balet em nossos jardins.
São azuis , amarelas, brancas, lilás,multi coloridas,
lindas cada uma de sua forma...
Parece até que só aparecem na vida para nos alegrar!
São alegres felizes, lindas!
Outras um pouco menos coloridas um tanto carentes.
Ja não sabem dançar nem mesmo beijar.
Essas precisam mais que todas
de ouvidos para ouvir seus bater de asas,
de olhos que vejam sua beleza
de um coração pra aconchegar !
São tão lindas também!
São tantas borboletas que chegam pra nos alegrar.
Quando se vão por motivos da vida,
nos deixam de saudades chorar.
Assim são as amizades,
borboletas coloridas
que na vida chegam pra alegrar...
e enfeitar.
Ana Maria Brasiliense
Loteria do Amor
Vou pedir um namorado
de fina educação.
Que tenha dinheiro no banco
e crédito no cartão.
Que me leve prá passeios
dignos de uma princesa.
Muito mais que queridinha,
me chame de vossa alteza!
Que me ponha num pedestal,
e me cubra de jóias raras!
Que me dê tudo o que quero,
e satisfaça minhas taras!
Se não tiver um jatinho,
pode ser um importado!
Que tenha um coração mole
e o bolso não seja blindado!
Mas se Deus achar demais
e de esperar eu desistir,
aceito um namoradinho
que apenas me faça sorrir!
(Mell Glitter)
Plenitude...
O seu amor que chega...
Como água cristalina da fonte.
E percorre os caminhos
Do meu coração...
Fazendo-me acreditar que,
Tudo pode ser possível...
Preenchendo as lacunas,
Dando vida á própria vida.
E fazendo-me plena diante de você.
Valquíria Cordeiro
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Valquíria Cordeiro
Depois de muito, depois de vagas léguas,
confuso de domínios, incerto de territórios,
acompanhado de pobres esperanças
e companhias infiéis e desconfiados sonhos,
amo o tenaz qua ainda sobrevive nos meus olhos,
ouço no meu coração os meus passos de ginete,
mordo o fogo adormecido e o sal arruinado,
e de noite, de atmosfera escura e luto fugitivo,
aquele que vela na orla dos acampamentos,
o viajor armado de estéreis resistências,
detido entre sombras que crescem e asas que tremem,
me sinto ser, e meu braço de pedra me defende.
Há entre ciências de pranto um altar confuso,
e na minha sessão de entardeceres sem perfume,
nos meus abandonados dormitórios onde mora a lua,
e aranhas de minha propriedade, e destruições que me
são queridas
adoro o meu próprio ser perdido, minha substância
imperfeita,
meu golpe de prata e minha perda eterna.
Ardeu a uva úmida, e a sua água funerária
ainda vacila, ainda reside,
e o patrimônio estéril, e o domicilio traidor.
Quem fez cerimônia de cinzas?
Quem amou o perdido, quem protegeu o último?
O osso do pai, a madeira do barco morto,
e o seu próprio final, a sua mesma fuga,
a sua força triste, o seu deus miserável?
Espreito, assim, o inanimado e o dolente,
e o testemunho estranho que sustento,
com eficiência cruel e escrito em cinzas,
é a forma de esquecimento que prefiro,
o nome que dou à terra, o valor dos meus sonhos,
a quantidade interminável que divido
com os meus olhos de inverno, durante cada dia deste
mundo.
Pablo Neruda
Antes do compromisso, há a hesitação, a oportunidade de recuar, a ineficácia permanente. Em todo ato de iniciativa há uma verdade elementar, cujo desconhecimento destrói muitas idéias e planos explêndidos: no momento em que nos comprometemos de fato a providência também age.
Ocorre toda espécie de coisas para nos ajudar, coisas que de outro modo nunca ocorreriam. Toda uma cadeia de eventos emana da decisão, fazendo vir em nosso favor todo tipo de encontro, incidentes e de apoio material imprevistos, que ninguém poderia sonhar que surgiria em seu caminho.
Começa tudo o que possas fazer, ou que sonhas poder fazer.
A ousadia traz em si o gênio, o poder e a magia.
Goethe
Dou-te uma rosa,
Primeira,
Com o espinho consagrando
O sangue
Que de minha mão roubou.
Dou-te meu amor,
Primeiro,
Com a saudade estrangulando
O ângulo
Que de tua alma roubei.
Oswaldo Antonio Begiato
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Oswaldo Antônio Begiato
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Receita de Mulher
(...)
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave.
(...)
Carlos Drummond de Andrade
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Carlos Drummond de Andrade
Viagem
Pelos meus dedos molhados
escorrem largos oceanos.
Pelos meus dedos azuis
desfilam navios esquálidos.
Meus dedos estão cansados
por isto, já nem se fecham:
portos vagos abrem-se e deixam
partirem todos os sonhos.
Os sonhos vão como mortos
em seus esquifes marinhos
nos corpos sem consistência
pousam anêmonas. Os rostos
entre rochedos opostos
desaparecem. Mistério
exibe-se em ar grave e sério
à terra do esquecimento.
Restos de brumas aladas
perpassam na maresia.
Minhas mãos já não sustentam
quilhas contra as águas claras.
Cantam na vela enfunada
ventos de todo quadrante
por mais que busquem o horizonte
o infinito os afasta.
- Sou como viageiro estranho
por mais que busque e navegue
do infinito o talvegue
jamais reencontro os sonhos.
Bernadette Lyra
"Que o homem não seja indigno do Anjo
cuja espada o protege
desde que o gerou aquele Amor
que move o sol e outras estrelas
até o Último Dia em que ressoe
o trovão na trombeta.
Que não arraste a vermelhos bordéis
nem aos palácios que erigiu a soberba
nem às tavernas insensatas.
Que não se entregue à súplica
nem ao ultraje do pranto
nem à fabulosa esperança
nem às pequenas magias do medo
nem ao simulacro do histrião;
o Outro o observa.
Que lembre que jamais estará só.
Ou no público dia ou na sombra,
o incessante espelho o confirma;
que não macule seu cristal uma lágrima.
Senhor, que até o fim de meus dias sobre a Terra
eu não desonre o Anjo."
Jorge Luis Borges
Poema
O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Como rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen
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Sophia de Mello Breyner Andresen
quarta-feira, 28 de maio de 2008
Florescer – é Resultar – quem encontra uma flor
E a olha descuidadamente
Mal pode imaginar
O pequeno Pormenor
Que ajudou ao Incidente
Brilhante e complicado,
E depois oferecido, tal Borboleta,
Ao Meridiano –
Encher o Botão – opor-se ao Verme –
Obter o que de Orvalho tem direito –
Regular o Calor – escapar ao Vento –
Evitar a abelha que anda à espreita,
Não decepcionar a Grande Natureza
Que A espera nesse Dia –
Ser Flor é uma profunda
Responsabilidade.”
Emily Dickinson
terça-feira, 27 de maio de 2008
Falo
Graciela Blue...
...A Fada Nada Mais é,
Nada Mais Quer,
Do Que Somente Carinhos...
A Fada é Uma Mulher,
Com Todas as Tempestades,
Toda a Calmaría,
Universificada no Seu Interior.
Tem Dias Que Ela é Mágica,
Santa...Milagreira...
Tem Outros Dias Que Ela é
Apenas Humana...Neurótica,
Cansada.
Blue,
Na Metáfora de Tudo Ser do Bem,
De Tudo Ficar Bem,
De Sempre Haver Um Final Feliz...
Essa Fada, Essa Própria
Foi Registrada, Batizada Com o Nome
de Graciela,
Que Visita Meu Bosque,
Elogia Meu Jardim,
Tras Sempre Aroma de Rosas
e Carinhos Para Mim.
Maxuel Scorpiano
Fada Azul
Fada azul cercada de verde,
vive num eterno deslumbramento
és puro amor, teces a rede,
como aranha ao sabor do vento
e sopra com força o vento sul,
e voas pelo mundo perdida,
linda e alegre fada azul,
espalhando amor pela vida...
Linda fadinha azul
que brilha como vagalume,
de sua forma mágica
só podemos ver o lume
mas quando se enches de amor,
e esparge-o em forma de mágico pó
perfuma a vida como flor,
e tenho certeza de que não estou só...
Maria Cristina
Dizer-te, meu amigo,
que, à uma da manhã
e desta noite,
está lindo o nevoeiro
que um manto de sossego
assim inteiro
eu desejava dar-te
- e ter comigo.
Enviava-te um frasco,
se pudesse,
fechado em carta azul,
ou por fax de sol
(não fora o medo que o sol
o desfizesse)
Assim, mando daqui
esta espessura
de cheiro muito branco
e muito belo:
um manto de ternura
dobado num novelo,
que chegue
até aí.
Ana Luísa Amaral
segunda-feira, 26 de maio de 2008
domingo, 25 de maio de 2008
O jardim do solar
As fontes estão secas e as rosas acabaram.
Incenso da morte. O teu dia aproxima-se.
As pêras engordam como pequenos budas.
Uma névoa azul prolonga o lago.
Moves-te atravês da era dos peixes,
dos presumidos séculos do porco...
A cabeça, os dedos dos pés e das mãos
saem nítidos da sombra. A História
alimenta estas caneluras quebradas,
estas coroas de acantos,
e o corvo vem arranjar as suas vestes.
Tu herdas a urze branca, uma asa de abelha.
Dois suicidas, os lobos da família,
horas de escuridão. Algumas estrelas isoladas
já iluminam os céus.
A aranha na sua própria teia
atravessa o lago. Os vermes
abandonam as suas casas habituais.
As pequenas aves convergem, convergem
com as suas dádivas para um difícil nascimento.
Sylvia Plath
traduzida por Maria de Lourdes Guimarães
Liberdade
Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.
Sophia de Mello Breyner Andresen
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Sophia de Mello Breyner Andresen
Quem das legiões de anjos?
Se gritasse, quem das legiões de anjos escutaria
o grito? E mesmo se, inesperadamente,
um deles me acolhesse no coração: sucumbiria à sua
existência mais forte! Pois o belo não é senão
o princípio do espanto que mal conseguimos suportar,
e ainda assim, o admiramos porque, sereno,
deixa de nos destruir. Todo anjo é espantoso.
(...)
E a noite, a noite quando o vento cheio de espaços do mundo
nos desgasta a face - para quem ela não saberia ser desejo e suave decepção,
ela, cuja proximidade pesa sobre
o coração solitário! Será mais leve para os amantes?
Juntos, eles apenas encobrem um para o outro seu destino.
Ainda não sabias? Lança o vazio aprisionado nos braços
para os espaços que respiramos! Talvez os pássaros sintam,
num vôo de maior intimidade, o ar mais amplo.
Rainer Maria Rilke
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