sexta-feira, 30 de maio de 2008


Uma abelha, dessas que dizem ser italianas,
entrou pela janela,
obstinou-se em escolher-me,
pousa-me no ombro,
descansa de seus trabalhos.
Lisonjeado com aquela preferência,
comecei a amá-la devagar,
retendo a respiração,
com receio de que não tardasse
a dar pelo seu engano,
que cedo viesse a descobrir
que não era eu a haste de onde se avistavam as dunas.
Mas o seu olhar tranquilizava,
era calma ondulação do trigo.
Agora só uma interrogação perturba a minha alegria:
o que farei com o seu mel?

Eugénio de Andrade

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