quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Aquarela de Amor


Meu Doce Amor,
Me pintou
De todas as cores,
De um jeito
Tão lindo
E eu sinto,
Que nunca
Vou desbotar

(Paty Padilha)

Gestos



Com que medida
Se mede o amor?
Com quantas luas
Ou sóis oceanos
Tormentas
Com quantos pequenos
Ou quase imperceptíveis gestos?

Perfumar a casa
Fazer a cama
Cortar o pão
Rearrumar os sonhos
Pronuncio o teu nome
E de muito longe
Um oásis me habita
E o ar estremece
Povoado de anjos

(Roseana Murray)

Duas Amigas ( Parte I )



Duas amigas num quintal
Vão inventando o mundo:
Uma vez uma fada,
Uma vez uma bruxa,
A amizade é que puxa.
Como pequenas flores,
Estrelas ou pérolas,
Palavras nascem e se tingem
De azul.

Para as meninas,
As casas são tão misturadas
Quanto duas águas
Numa mesma vasilha.
Onde termina a casa de uma
E começa a casa da outra?

Parece até que nasceram juntas,
Quando uma se demora,
A outra fica aflita.
O nome de uma é Ana,
O nome de outra é Rita.

(Roseana Murray)


Anita vende a doçura em frascos. Enche-os de compota de fruta, tapa-os e cola-lhes uma etiqueta, mas, em vez de escrever compota disto ou compota daquilo, de mirtilos ou de pêssego, de marmelo ou de morango, arredonda a letra e escreve apenas Doçura. Senta-se no passeio com os frascos defronte, expostos no asfalto, junto aos pés, e não lhe faltam clientes. A compota vende-se muito bem e ninguém regressa para reclamar: quem compra julga que a doçura está toda nos olhos de Anita.

[...] Às vezes, pensando nisto, Anita ainda se entristece. Olhando-a a partir da minha janela do país onde é quase sempre Inverno, vejo que as estrelas se lhe reflectem no orvalho dos olhos. Vejo isto e enterneço-me. Daqui longe fecho os meus olhos e sussurro bem baixinho a única verdade que existe – para que ela a oiça: que não há no mundo todo maior poema do que vê-la, sentada no passeio, a vender a Doçura que tem nos frascos. E nos olhos.

Manuel J.Marmelo