Entre Fadas e Borboletas circulamos. Neste movimento transitório, inalterável, percorremos. Entre mistérios e paraísos lilases equilibramos. Entre matizes rosas e azuis voamos. E nos canteiros perfumados cultivamos. As flores mais lindas colhemos. Rosas vermelhas ou brancas exalamos. E nas manhãs de verão, nos amamos. (Paty Padilha)
terça-feira, 25 de dezembro de 2007
"Quando um ser humano chama o outro de irmão, é porque já validou em si mesmo um senso de valor
segundo o qual o bem coletivo e o progresso da humanidade estão acima da religião que professa.
Os seres que desenvolveram uma afetividade fraternal aprenderam que a humanidade inteira
faz parte de um todo interligado, regido por uma só lei, natural ou divina."
(Hammed)
Nunca Mais
Antes eu tivesse partido
para longe de mim...
antes eu me tivesse refugiado
no antro dos velhos Magos...
- Porque eles me dariam a beber
o sumo da Flor-Sábia,
da Flor-Mãe,
que adormece,
alivia
consola...
Antes eu tivesse partido
para longe de mim...
Mas o antro dos velhos Magos
é tão negro e tão triste...
Tive medo de me perder
naquela treva,
de onde nunca mais
poderia ver
os caminhos sidérios
que a Ti conduzem
meus olhos...
Antes eu tivesse partido
para longe de mim...
mas doía-me adormecer,
pelo medo de ter de deixar de amar...
No entanto,
eu sei que tudo é inútil...
Eu sei que tudo é impossível...
Eu sei que tudo é vão,
Tudo,
Tudo que eu sonho e quero...
Eleito, ó Eleito,
antes eu tivesse partido
para longe de mim...
Antes me tivesse refugiado
No antro dos velhos Magos...
(Cecília Meireles)
Descrição
Há uma água clara que cai sobre pedras escuras
e que só pelo som, deixa ver como é fria.
Há uma noite por onde passam grandes estrelas puras.
Há um pensamento esperando que se forme uma alegria.
Há um gesto acorrentado e uma voz sem coragem,
e um amor que não sabe aonde é que anda o seu dia.
E a água cai, refletindo estrelas, céu, folhagem...
Cai para sempre!
E duas mãos nela mergulham com tristeza,
deixando um esplendor sobre a sua passagem.
(Porque existe um esplendor e uma inútil beleza
nessas mãos que desenham dentro da água sua viagem
para fora da natureza,
onde não chegará nunca essa água imprecisa,
que nasce e desliza, que nasce e desliza...)
(Cecília Meireles)
Canção do amor-perfeito
O tempo seca a beleza.
seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
desunido para sempre
como as areias nas águas.
O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.
O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco,
vestígio do musgo humano,
na densa turfa mortuária.
Esperarei pelo tempo
com suas conquistas áridas.
Esperarei que te seque,
não na terra, Amor-Perfeito,
num tempo depois das almas.
(Cecília Meireles)
Canção do caminho
Por aqui vou sem programa,
sem rumo,
sem nenhum itinerário.
O destino de quem ama,
como o trajeto do fumo.
Minha canção vai comigo.
Vai doce.
Tão sereno é seu compasso
que penso em ti, meu amigo.
- Se fosse,
em vez da canção, teu braço!
Ah, mas logo ali adiante
- Tão perto! -
acaba-se a terra bela.
Para este pequeno instante,
Decerto,
é melhor ir só com ela.
(Isto são coisas que digo,
que invento,
para achar a vida boa...
A canção que vai comigo
É a forma de esquecimento
Do sonho sonhado à toa...)
(Cecília Meireles)
Boa Noite
Boa noite, meu amor, - diz boa noite, querida,
vou deitar-me, e sonhar contigo ainda uma vez,
a noite assim azul, cheia de luz, não vês?
Parece que nos chama e a sonhar nos convida..
O céu é aquela folha onde deixei perdida
a história de um amor, que te contei talvez,
- hoje, nela eu não creio, e tu também não crês,
- mas, para que falar nessa história esquecida?...
Boa noite, meu amor... Vê se sonhas também...
"Um castelo encantado... um país muito além
e um príncipe ao teu lado amoroso e cortês..."
Com o céu azul assim, talvez dormir consiga,
vou sonhar...vou sonhar contigo, minha querida,
vê se sonhas também comigo alguma vez!
(J. G. de Araujo Jorge)
Feliz Ano Novo!
Desejos de Ano Novo
Neste Ano Novo que ora se começa.
Desejo-te o mesmo que tens já agora.
Aquilo que te cerca a quase toda hora,
Mas que por vezes não te interessa.
E ante a loucura de ter sempre pressa.
Talvez nem notes como é bela a aurora...
Talvez nem notes quando o campo aflora...
Talvez nem notes se alguém quer conversa...
Por isso claro, quero teu progresso,
Mas também quero em meu humilde verso
Pedir-lhe que valorize o que já tens.
Pra que se acaso perdê-los vir um dia,
Não venhas lamentar que não sabia
O quanto valiosos eram seus bens...
(Jenario de Fátima)
Um beijo
Resíduo
(...) Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.
(...) E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
(Carlos Drummond de Andrade)
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