quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Eis Minha Amada


Com mãos faceiras e hábeis
Tomou seus versos impuros e sovados
Lavando-os com água fresca e amaciante.
A mais amante.


Pelo avesso,
Para que eles não perdessem suas rimas,
Entregou-os ao sol, através de varais fincados nos quintais,
Para que fossem iluminados com a luz da estrela.
Era tão bonito vê-la.


Enxutos, passou-os sob ferro em brasa
Borrifando neles perfumes feitos com extrato de flores
E lhes conferiu vincos impecáveis.
Poder-se-ia senti-los sem pecados.


Feito isso, limpos e ordenados,
Guardou-os nas muitas gavetas de meu livro de cabeceira.


Fez-me apaixonado.

(Oswaldo Antônio Begiato)

PARA QUE COMPLICAR?


Não precisas de presentes
Nem rimas,
nem flores,
nem nada.
Basta trazeres o que sentes,
E chegares de madrugada.


Perde as mãos pelo meu corpo,
Faz-me calar com um beijo,
Como se eu fosse o teu porto,
E tu meu mar de desejo.


Deixa falar a paixão,
Não faças juras de amor,
É só carinho e tesão,
Suor, gemidos, calor.


Enrosca-te no meu seio
Os corações a bater.
Sem confusão,
sem rodeio
Mais simples não pode ser.


Carlos Drummond de Andrade


Com quantos suspiros se escreve a palavra saudade?

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem dercobrirmos a cor
nem o cheiro da erva.


Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.


(Maria Teresa Horta)

“A música passa ao largo do meu pensamento e se instala onde eu me sinto, onde eu me conecto com sensações infantis de extremo prazer, onde tudo se torna absolutamente instintivo. Ela me desengessa. Dá reconhecimento ao meu corpo, que reage a ela sem pudores.

Enquanto as palavras vestem, a música despe.

E quando estão juntas, letra e música — boa! — aí é uma excitação diferente, é um arrebatamento difícil de explicar, é mais ou menos o que acontece na hora do sexo, quando a gente não está pensando em nada, quando a gente deixa o personagem do lado de fora do quarto e recupera a pureza de ser quem é.


Martha Medeiros