quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Do Poema


O problema não é
meter o mundo no poema; alimentá-lo
de luz, planetas vegetação. Nem
tão- pouco
enriquecê-lo, ornamentá-lo
com palavras delicadas, abertas
ao amor e à morte, ao sol, ao vício,
aos corpos nus dos amantes -

o problema é torná-lo habitável, indispensável
a quem seja mais pobre, a quem esteja
mais só
do que as palavras
acompanhadas
no poema.

Casimiro de Brito

- Ajudando a chorar


A menina chegou em casa atrasada para o jantar.
Sua mãe tentava acalmar o nervoso pai enquanto pedia explicações sobre o que havia acontecido.
A menina respondeu que tinha parado para ajudar Janie, sua amiga, porque ela tinha levado um tombo e sua bicicleta tinha - se quebrado.
- "E desde quando você sabe consertar bicicletas?" perguntou a mãe.
- "Eu não sei consertar bicicletas!" disse a menina.
"Eu só parei para ajudá-la a chorar".

Murray Lancaster


Alga



Passa a noite calma
O silêncio da brisa...
Acontece-me à alma
Qualquer cousa imprecisa....

Uma porta entreaberta...
Um sorriso em descrença...
A ânsia que não acerta
Com aquilo em que pensa.

Sombra, dúvida, elevo-a
Até quem me suponho,
E a sua voz de névoa
Roça pelo meu sonho...

(Fernando Pessoa)

Poema Transitório



(...) é preciso partir
é preciso chegar
é preciso partir é preciso chegar... Ah, como esta vida é urgente!

... no entanto
eu gostava mesmo era de partir...
e - até hoje - quando acaso embarco
para alguma parte
acomodo-me no meu lugar
fecho os olhos e sonho:
viajar, viajar
mas para parte nenhuma...
viajar indefinidamente...
como uma nave espacial perdida entre as estrelas.


Mário Quintana

Rosas são vermelhas
Como o coração,
Mas da sua vida,
Somente eu,
Sou a paixão.

(Carolina P. Aguiar)

Aine, Deusa das Fadas


Deusa primária da Irlanda
Soberana da terra e do sol,
Aine, sinônimo de prazer,
alegria e esplendor
Rainha dos reinos encantados
Aine é a Deusa do amor
Da fertilidade e do desejo
Deusa-Fada segundo a tradição
Ajudava viajantes perdidos
Com seus poderes de transformação
Aine, Deusa Donzela, Deusa Mãe,
Deusa Obscura, onde seu poder de sedução
Aos homens mortais era fatal

Paty Padilha

Poética Contraditória



Não digas o que sabes nos teus versos,
Deixa para trás a ciência e a consciência;
Tudo aquilo que em ti não for ausência
São ideais perdidos, ou submersos.

Abandona-te às vozes que não ouves,
E liberta os teus deuses nos teus dedos;
Não busques os sorrisos, mas os medos,
E o que não for ignoto e só, não louves.

Ser misterioso e triste, é ser poeta:
Mesmo a luz que palpita nos teus cantos
É uma imagem heróica dos teus prantos.

Percorre o teu caminho até ao fundo,
E com os versos que achaste, aumenta o mundo.
Não sejas um escritor, mas um profeta.

António Quadros