quarta-feira, 18 de agosto de 2010

ESSA MULHER, A DOCE MELANCOLIA


Essa mulher, a doce melancolia
dos seus ombros, canta.
O rumor da sua voz
entra-me pelo sono,
é muito antigo.
Traz o cheiro acidulado
da minha infância chapinhada ao sol.
O corpo leve quase de vidro.

Eugenio de Andrade

A amizade não precisa de palavras - é a solidão sem a angústia da solidão.

Dag Hammarkskjod

BRUTO


Tendo lido os jornais
— infectado a mente, e nauseado os olhos —
descubro, lá fora, o azul do mar
e o verde repousante que começa nas samambaias
da sala
e recrudesce nas montanhas.

Para que perco tantas horas do dia
nessas leituras necessárias e escarninhas?
Mais valeria, talvez, nas verdes folhas, ler
o que a vida anuncia.

Mas vivo numa época informada e pervertida.
Leio a vida que me imprimem
e só depois
o verde texto que me exprime.


Affonso Romano de Sant’Anna 


Intervalo



Às vezes,
Todas as dores de uma vida inteira
Gritam...

Às vezes,
Nas mãos, os gestos de perdão
Petrificam...

Às vezes,
As canções dos anjos
Emudecem...

Às vezes,
Os silêncios , numa praia derradeira
Desaguam...

Às vezes...
Só às vezes...


Vera M. (Queen of Hearts)

“Meu livro é um jardim na doçura do Outono
E que a sombra amacia
De carinho e de afago
Da luz serena do final do dia;
É um velho jardim dolente e triste
Com um velho local de silêncio e de sono
Já sem a luz de verão que o doire e tisne,
Mas onde ainda existe
O orgulho de um Cisne
E a água triste de um Lago.”



Mário Pederneiras


...se você vem, fica tudo maior, mais amplo.
Sei lá, mas é como se eu
existisse de um jeito mais completo...

_Caio F. Abreu_