domingo, 6 de setembro de 2009

"Alma Minha"


Minh’alma chora
Tudo que tranquei
Tudo que perdi
Sem ter tido...
Tudo que sofri e morri...
Um pouco a cada dia.
E me vesti de poesia
E não adiantou...
O vento soprou
E te levou!
E minh’alma chora
A ausência da tua...
Alma minha!

(Dú Karmona)

Aparição


E eu acreditei ver a fada
com o chapéu de luz
que outrora nos meus sonhos
de criança mimada passava,
deixando sempre de suas mãos entreabertas
nevar brancos buquês
de estrelas perfumadas.



Stéphane Malarmé


Consideremos o jardim, mundo de pequenas coisas,
calhaus, pétalas, folhas, dedos, línguas, sementes.
Sequências de convergências e divergências,
ordem e dispersões, transparência de estruturas,
pausas de areia e de água, fábulas minúsculas.
Geometria que respira errante e ritmada,
varandas verdes, direcções de primavera,
ramos em que se regressa ao espaço azul,
curvas vagarosas, pulsações de uma ordem composta pelo vento em sinuosas palmas.
Um murmúrio de omissões, um cântico do ócio.
Eu vou contigo, voz silenciosa, voz serena.
Sou uma pequena folha na felicidade do ar.
Durmo desperto, sigo estes meandros volúveis.
É aqui, é aqui que se renova a luz.


António Ramos Rosa

A espera é difícil,
Mas espero cantando...

E quando tudo parece ser,
a gavetinha se abre
cotucando em tudo o SER.
São sentimentos que doem,
uma saudade pungente
das coisa que a gente sente,
da vida por mais viver.
Ânsia do impossível,
quase certo acontecer,
desejo que teria sido,
não fosse o anoitecer.

Algo do inconsciente da alma,
que mesmo calma, procura
horizonte em farrapos afogados
no fogaréu do céu, sem véu.
Me reflete aconchegando, amarfanhando,
no colo do por do sol...do que sou...
A espera é difícil, mas espero cantando.


Gaiô.

era assim:




queres?
queres algo?
queres desejar?
desejas querer?
desejas-me?
desejas querer-me?
queres desejar-me?
queres querer-me?
queres que te deseje?
desejas que te queira?
queres que te queira?
quanto me
queres?
quanto me
desejas? ah quanto te quero
quando te quero
quando me queres...


Ana Hatherly

"À noite eu me deito
Então escuto a mensagem no ar
Vagando entre os astros
Nada me move
Nem me faz parar
A não ser a vontade de te encontrar
O motivo eu já nem sei
Nem que seja só para estar ao seu lado
Só pra ler no seu rosto
Uma mensagem de amor."

[ Herbert Vianna ]

Na solidão na penumbra do amanhecer.
Via você na noite, nas estrelas, nos planetas,
nos mares, no brilho do sol e no anoitecer.
Via você no ontem , no hoje, no amanhã…
Mas não via você no momento.
Que saudade…


Mário Quintana

"Cuitelinho"


A tua saudade corta como aço de navaia
O coração fica aflito, bate uma, a outra faia
E os óio se enche d´água
Que até a vista de atrapaia, ai ai.

Paulo Vanzolini / Antônio Xandó


Faça o que é bom
Sinta o que é bom
Pense o que é bom
Bom pra você!

Coma o que é bom
Veja o que é bom
Volte ao que é bom
Bom pra você!

Guarda pro final
Aquele sabor genial
Se é genial pra você!
Tente o que é bom
Permita o que é bom
Descubra o que é bom
Bom pra você!

Então beije o que é bom
Mostre o que é bom
Excite o que é bom
Bom pra você!

Um dia você me conta
Um dia você me apronta
Um resumo
Do supra-sumo do seu prazer

Pense o que é bom
Perceba o que é bom
Decida o que é bom
Pra você

Decida o que é bom pra você!

Zélia Duncan e C. Oyens

Merina





Rosto comprido, airosa, angelical, macia,
Por vezes, a alemã que eu sigo e que me agrada,
Mais alva que o luar de inverno que me esfria,
Nas ruas a que o gaz dá noites de ballada;


Sob os abafos bons que o Norte escolheria,
Com seu passinho curto e em suas lãs forrada,
Recorda- me a elegância, a graça, a galhardia
De uma ovelhinha branca, ingénua e delicada.


Cesário Verde

Boa noiteeeeeee


Não importa que você esteja tão longe,
mas através do meu pensamento trago-te
para junto de mim.
Para que você possa receber o meu
abraço e o desejo de uma linda Noite!

Os olhos são o espelho da alma.
E se isso, verdade é,
deixe-os serem a janela,
e veja por um instante
minha alma de mulher.


Astas Vondas

Bilhete Deixado Antes de Não Partir


Se não retornasse,
Saibam que jamais
Parti.

O meu viajar
Foi sempre um ficar
Aqui, onde nunca estive.



Giorgio Caproni


Flor Do Mal



Estou perdida na fumaça
Na penumbra de um cabaré
E essa dor é uma cachaça
Que não passa, me descompassa
Um amor carnal, uma flor do mal
Meu castigo de sempre

Te querer muito mais que a mim
Foi assim do começo ao fim
Até mesmo a loucura que conduz a volúpia dor
Pois te amei como amei meu pai
E quem ama o amor não trai
Vou levando esta cruz

Garçom me sirva um bom traçado
Dose dupla de solidão
A um coração dilacerado
Transpassado de lado a lado
Ponta de punhal, uma flor do mal
Meu destino de sempre

Me entreguei nesta comunhão
Como a abelha se entrega a flor
E num beijo imortal depois do amor e satisfação
Mais que eu ninguém deu de si
E sou eu que ainda vive aqui
Prisioneira da dor embriagada no perfume da paixão
E a paixão enfim é flor do mal
Tatuada em mim.



Aécio Flávio Tibério Gaspar