sábado, 2 de maio de 2009

Por delicadeza


Bailarina fui
Mas nunca dancei
Em frente das grades
Só três passos dei


Tão breve o começo
Tão cedo negado
Dancei no avesso
Do tempo bailado


Dançarina fui
Mas nunca bailei
Deixei-me ficar
Na prisão do rei


Onde o mar aberto
E o tempo lavado?
Perdi-me tão perto
Do jardim buscado


Bailarina fui
Mas nunca bailei
Minha vida toda
Como cega errei


Minha vida atada
Nunca a desatei
Como Rimbaud disse
Também eu direi:


«Juventude ociosa
Por tudo iludida
Por delicadeza
Perdi a minha vida»


Sophia Mello Bryner Andresen

Menino que mora num planeta
Azul feito a cauda de um cometa
Quer se corresponder com alguém
De outra galáxia.
Neste planeta onde o menino mora
As coisas não vão tão bem assim:
O azul está ficando desbotado
E os homens brincam de guerra.
É só apertar um botão
Que o planeta Terra vai pelos ares..
Então o menino procura com urgência
Alguém de outra galáxia
Para trocarem selos,figurinhas
E esperanças.

Roseana Murray

Coisa de Poeta



Poeta se achega pertinho.
Tenho um atalho
bem costurado na periferia de mim.
Perfaz o contorno,
atravessa o ser recortado em retalhos,
de eus que imaginam, se buscam encontrar.
São sonhos perdidos
em "sous" iludidos
montagem/colagem
se encontram.
O poeta sorri.
remendos se encantam
em composição
de um feliz
coração.

Gaiô

Happy Earth Day!


Habitante de outra galáxia
Aceita-se corresponder-se com o menino
Do planeta azul.
O mundo deste habitante é todo
Feito de vento e cheira a jasmim.
Não há fome nem há guerra
E, nas tardes perfumadas
As pessoas passeiam de mãos dadas
E costumam rir à toa.
Nesta galáxia ninguém faz a morte,
Ela acontece naturalmente
Como o sono depois da festa.
Os habitantes não mentem
E por isso os seus olhos
Brilham como riachos.
O habitante de outra galáxia
Aceita trocar selos e figurinhas...

Roseana Murray


Os olhos (sobre a memória e o tempo)


Quando morreu a sua amada
Pensou em envelhecer
Na sua casa encerrado,
Só, com a sua memória e o espelho
Onde ela se mirava um claro dia.
Como o ouro na arca do avarento,
Pensou que guardaria
Todo um passado no espelho claro,
E o tempo não correria já para ele.

Mas passado o primeiro aniversário,
Como eram? – perguntou – pardos ou negros
Os seus olhos? Esverdeados? Cinzentos?
Como eram, Santo Deus, que me não lembro?

Saiu à rua um dia
De primavera e passeou em silêncio
O seu duplo luto, de coração fechado...
Duma janela no sombrio vão
Viu uns olhos brilhar. Baixou os seus
E seguiu seu caminho. Como esses!

- António Machado -

VALSA BRASILEIRA




Vivia a te buscar
Porque pensando em ti
Corria contra o tempo
Eu descartava os dias
Em que não te vi
Como de um filme
A ação que não valeu
Rodava as horas pra trás
Roubava um pouquinho
E ajeitava o meu caminho
Pra encostar no teu


Subia na montanha
Não como anda um corpo
Mas um sentimento
Eu surpreendia o sol
Antes do sol raiar
Saltava as noites
Sem me refazer
E pela porta de trás
Da casa vazia
Eu ingressaria
E te veria
Confusa por me ver
Chegando assim
Mil dias antes de te conhecer


(Edu Lobo- Chico Buarque)


Chovem Duas Chuvas


Chovem duas chuvas:
De água e de jasmins
Por estes jardins
De flores e nuvens.

Sobem dois perfumes
Por estes jardins:
De terra e jasmins,
De flores e chuvas.

E os jasmins são chuvas
E as chuvas, jasmins,
Por estes jardins
De perfume e nuvens.


Cecília Meireles




Bom diaaaaaaaaaaaaaa