domingo, 4 de maio de 2008

Esperava...


Esperava, de mãos cruzadas sobre a saia do vestido de sonhos.
Alheada do mundo restante, da luz e da sombra, do branco e do negro.
Tinha tecido uma teia de cores que ninguém via.
Sentia-se enredada nela, imobilizada.
Nem um dedo mexia, naquela espera.
Só o vestido ondulava, convite a quem conseguisse olhá-la e ver.
Mas à volta dela, para lá da teia, todos pareciam cegos.
Talvez surdos também.
Porque, embora quieta no sonho com que se vestia,
dela saía um grito que podia acordar o mundo.
Um terrível grito de silêncio.

Alice Eiras

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