terça-feira, 18 de agosto de 2009

VISITAÇÕES, OU POEMA QUE SE DIZ MANSO







De mansinho ela entrou, a minha filha.


A madrugada entrava como ela, mas não
tão de mansinho. Os pés descalços,
de ruído menor que o do meu lápis
e um riso bem maior que o dos meus versos.


Sentou-se no meu colo, de mansinho.


O poema invadia como ela, mas não
tão mansamente, não com esta exigência
tão mansinha. Como um ladrão furtivo,
a minha filha roubou-me a inspiração,
versos quase chegados, quase meus.


E mansamente aqui adormeceu,
feliz pelo seu crime.


Ana Luísa Amaral

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