segunda-feira, 30 de novembro de 2009



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.Repara no meu rosto e mede
a profundidade das minhas rugas.
Observa de perto o meu cabelo branco
e passa os dedos pelas minhas cicatrizes.
Tudo isso é a árvore que eu sou.
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Da copa inatingível e secreta
até ao abismo das fundas raízes.
Se me falares baixinho lembrarei
as suaves brisas de Outono e desprenderei
abraços dos meus ramos em folhas sedosas
para te atapetar o caminho.
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Se um dia te cansares de mim
corta-me. Serra-me ao meio. Arde-me.
Mas peço-te meu amor
aproveitando este vento da tarde:
nunca na vida me deixes sozinho.
A solidão secar-me-ia de dor.
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José António Gonçalves

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