sábado, 26 de junho de 2010

Em alguma vida fui ave.


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Guardo memória
de paisagens espraiadas
e de escarpas em voo rasante.
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E sinto em meus pés
o consolo de um pouso soberano
na mais alta copa da floresta.
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Liga-me à terra
uma nuvem e seu desleixo de brancura.
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Vivo a golpes
com coração de asa
e tombo como um relâmpago
faminto de terra.
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Guardo a pluma
que resta dentro do peito
como um homem guarda o seu nome
no travesseiro do tempo.
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Em alguma ave fui vida.
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Mia Couto

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