segunda-feira, 10 de dezembro de 2007


Entre o gasto dezembro e o florido janeiro,
entre a desmistificação e a expectativa,
tornamos a acreditar, a ser bons meninos,
e como bons meninos reclamamos a graça
dos presentes coloridos.
Nossa idade - velho ou moço - pouco importa.
Importa é nos sentirmos vivos e alvoroçados mais uma vez,
e revestidos de beleza, a exata beleza que vem
dos gestos espontâneos e do profundo instinto
de subsistir enquanto as coisas em redor
se derretem e somem como nuvens
errantes no universo estável.
Prosseguimos.
Reinauguramos.
Abrimos olhos gulosos para um sol diferente que
nos acorda para os descobrimentos.
Esta é a magia do tempo.
Esta é a colheita particular que se exprime no cálido
abraço e no beijo comungante, no acreditar na vida
e na doação de vivê-la
em perpétua procura e perpétua criação.
E já não somos apenas finitos e sós.
Somos uma fraternidade, um território, um país
que começa outra vez no canto
do galo de primeiro de janeiro e
desenvolve na luz o seu frágil projeto de
felicidade.
(Carlos Drummond de Andrade)

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