segunda-feira, 3 de março de 2008

apparição



um dia, meu amor (e talvez cedo,
que já sinto estalar-me o coração!)
recordarás com dor e compaixão
as ternas juras que te fiz a medo…

então, da casta alcova no segredo,
da lamparina ao tremulo clarão,
ante ti surgirei, espectro vão,
larva fugida ao sepulcral degredo…

e tu, meu anjo, ao ver-me, entre gemidos
e afflictos ais, estenderás os braços
tentando segurar-te aos meus vestidos…

–«ouve! espera!»–mas eu, sem te escutar,
fugirei, como um sonho, aos teus abraços
e como fumo sumir-me-hei no ar!
(Antero de Quental)

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