domingo, 20 de abril de 2008

A Mulher Madura...


Há uma serenidade nos seus gestos,
longe dos desperdícios da adolescência,
quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente.
A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo
e vai florescendo estabanada.
É como um nadador principiante, faz muito barulho,
joga muita água para os lados. Enfim, desborda.
A mulher madura é assim: tem algo de orquídea
que brota exclusiva de um tronco, inteira.
Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs.
A mulher madura tem um som de adágio em suas formas.
E até no gozo ela soa com a profundidade de um violoncelo
e a sutileza de um oboé sobre a campina do leito.
Ela conheceu a traição e ela mesma saiu sozinha
para se deixar invadir pela dimensão de outros corpos.
Por isto As suas mãos são líricas no drama
e repõem no seu corpo um aprendizado da macia paina de setembro e abril.
O corpo da mulher madura é um corpo que já tem história.
Inscrições se fizeram em sua superfície.
Seu corpo não é como na adolescência uma pura e agreste possibilidade.
Ela conhece seus mecanismos, apalpa suas mensagens,
decodifica ...
A mulher madura tem esse ar de que, enfim, está pronta para ir à Grécia.
(Affonso Romano de Sant'Anna)