domingo, 13 de abril de 2008


"- Meu belo cão, meu cãozinho, meu querido totó, vem cá,
vem respirar um excelente perfume comprado no melhor perfumista da cidade.

E o cão, agitando a cauda, o que é, suponho, entre esses pobres seres,
o sinal correspondente ao riso e ao sorriso, aproxima-se e, curioso,
mete o nariz úmido no frasco destampado;
porém subitamente, recuando de susto, late contra mim, à feição de reprimenda.

- Ah, miserável cão! Se eu te houvesse oferecido um embrulho de excremento,
decerto o cheirarias com delícia e talvez o tivesses devorado.
Assim, ó indigno companheiro de minha triste vida,
tu te assemelhas ao público,
a quem nunca se devem apresentar perfumes delicados, que o exasperam,
mas imundíces cuidadosamente escolhidas."
(Charles Baudelaire – Tradução Aurélio Buarque de Holanda Ferreira)