terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Ele não sabia


De longe, a silhueta parecia frágil enquanto apreciava o assovio do vento, o balanço dos galhos já quase desprovido das incontáveis folhas.

Seu corpo, ora rolava em brincadeira, ora se estendia sobre o chão de natureza desfalecida, em contraste com o céu azul.

Não havia a dança do verde. As folhas sentiam-se fragilizadas, temiam um movimento mais brusco.

Da primavera e verão, apenas um leve sobejo das cores e da alegria.

Era sempre assim que o outono se apresentava ao jovem e inocente sonhador que aspirava dirigir trator, montar touro bravo, cavalo selvagem, desbravar sertão, conforme histórias que ouvia desde menino.

Era esse, o discurso que fazia aos quatro ventos e, nenhum deles, até então, lhe havia dado a merecida atenção.

Prosseguia ele, na labuta diária: dia após dia caminhava para extirpar as ervas daninhas que ousavam se instalar nos campos e prejudicar o período de plantio que viria.

Por vezes, a vida lhe parecia injusta, mas não sabia ao certo, o que era verdadeiramente justo.

De fato, não entendia muitas coisas e não se fazia entender em tantas outras, contudo, uma coisa era tão certa como dois mais dois somavam quatro: ele conhecia a natureza. Sabia, intuitivamente, que havia um tempo para cada coisa deste mundo, criado para ser amado e cuidado.

Deste modo corria ele pelos campos, amealhando as sobras de um outro tempo, de uma outra estação...

O que ele não sabia, era que ao simples toque, a natureza viva lhe sorria, o sol aquecia seu acriançado coração e o protegia das almas frias e sombrias que comumente acompanhavam o inverno.

Sim, o inverno, cuja gélida face já se insinuava na sombra do outono.

Ele não sabia...
(Heleida)

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