terça-feira, 5 de fevereiro de 2008


A partícula cósmica que navega meu sangue é um mundo infinito de forças siderais... Veio a mim sob um longo caminho de milênios quando talvez fui areia para os pés do ar... Logo fui a madeira, raiz desesperada, submersa no silêncio de um deserto sem água... Depois fui caracol, quem sabe aonde, e os mares me deram a primeira palavra... Logo a forma humana derramou sobre o mundo a universal bandeira do músculo e da lágrima...E cresceu a blasfêmia sobre a antiga terra... E então vim à América para nascer homem, e em mim juntei a mata, os pampas e a montanha... Converso com as folhas no meio dos montes que dão suas mensagens as raízes secretas... E assim vou pelo mundo sem idade nem destino, ao amparo de um cosmos que caminha comigo... Amo a luz, o rio, o caminho e as estrelas, e floresço em violões porque fui a madeira...
(Atahualpa Yupanqui)