sábado, 17 de novembro de 2007

a dor


a dor não me adormece nem me prostra
em vez me ascende, clara vasta e justa
expondo a profundeza dos meus rios

a dor secreta e morna dos exílios
a dor de ver os filhos de partida
a dor de ver partir a própria vida
a dor de compreender que somos falhos

a dor não me atravessa nem me frustra
em vez me acende e arde e lustra e arrasta
exposta em labaredas nos meus cílios

que a dor não me adormece nem me afasta
em vez,

me castra marca vara
e cobra e custa

o amor suave e brando dos delírios
a concretização dos meus desejos
as cores dos caminhos que não vejo
o grito redentor que não persigo

que a dor não me entorpece e nem se alastra
em vez me prende e gasta e corta e afunda
a voz imunda vasta grave e presa

liberta e clara como as asas dos meus filhos
a dor que não me mata e nem me basta
voando enfim o céu das minhas incertezas.
(Nálu Nogueira)

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